Junta de Freguesia de Raminho Junta de Freguesia de Raminho

História

A formação do curato e a autonomia paroquial

A densificação do povoamento dos Folhadais[12] e o surgimento das primeiras manifestações de alguma necessidade de autonomia em relação ao resto da paróquia de São Roque dos Altares ocorrem nas décadas finais do século XVII. Na visita pastoral realizada em 1684 pelo então bispo de Angra, D. frei João dos Prazeres, aquele prelado reconheceu que a paróquia dos Altares era muito extensa, sendo difícil ao vigário e ao cura então existentes atender às necessidades espirituais de um povoado que se estendia da Fajã (hoje na Serreta) à Ponta Negra (hoje nos Biscoitos). Face a isso, deliberou solicitar confirmação régia à criação de um segundo lugar de cura para a paróquia. Esse cura, aparentemente, destinava-se ao Raminho dos Folhadais e à Fajã, territórios que constituíam a parte oeste da paróquia. A criação do lugar de 2.º cura demorou a ser despachada pelo poder régio, pois uma década depois, em 1694, aquando da visita à paróquia realizada pelo doutor Ambrósio de Sousa Fagundes, tesoureiro-mor e penitenciário da Sé de Angra, visitador em nome do bispo D. Frei Clemente Vieira, deliberou aceder a uma petição que lhe foi feita pelos moradores do Raminho,[13] os quais lhe fizeram saber que «um devoto e eles intentavam erigir naquele sítio, uma ermida da invocação da Madre de Deus, por ser certo que em razão dos longes que vão do lugar da Fajã e Raminho ficavam muitas pessoas sem ouvirem missa e ser muita a distância dos ditos lugares à paróquia para receberem os Divinos Sacramentos».[14] No seu deferimento aquele visitador afirma que «mando que aprovando Sua Majestade, que Deus Guarde, o provimento do dito segundo cura, este seja obrigado nos domingos e dias santos de preceito ir logo de manhã dizer missa aos povos que residem da Cruz dos Dois Moios até à Fajã e os doutrine...».[14] Contudo, não foi obtida a sanção régio para a criação de mais um lugar de cura e a pretensão gorou-se. Também não há notícia da construção da ermida da Madre de Deus, talvez porque a obra estivesse condicionada à criação do lugar de 2.º cura para a paroquial de São Roque dos Altares.

Com a criação do curato de Nossa Senhora dos Milagres da Serreta, ocorrida em 1842, o lugar da Fajão, ao tempo termo da Vila de São Sebastião, passou a integrar o novo curato, desligando-se da paróquia de São Roque dos Altares. Com esse desligamento, o limite ocidental dos Altares passou a ser «a casa da Fajã», limite que depois passou a ser o extremo nordeste da Serreta, quando aquele curato foi elevado a paróquia em 1861.

Com o crescimento da população, naturalmente a necessidade de autonomia paroquial reacendeu-se e por iniciativa local em 1855 iniciou-se a construção de uma ermida, sendo escolhido o início da Canada do Esteves, o mesmo lugar onde 160 anos antes se propusera a construção da ermida da Madre de Deus. A primeira pedra foi lançada a 16 de agosto de 1855. Perante as dificuldades da população local em conseguir angariar os necessários fundos, por alvará de 25 de janeiro de 1856, do governador civil Nicolau Anastácio de Bettencourt, foi constituída uma comissão filial destinada a angariar fundos e a conduzir a obra. A «comissão filial» era presidida pelo padre António Joaquim Borges, vigário do Cabo da Praia, e integrava como tesoureiro José Coelho Cota, e como vogais João Machado Bretão, Francisco Vaz Toste, André Coelho e João Vieira Cardoso, sendo secretariada pelo padre José Bernardo Corvelo.

Nos trabalhos destacou-se a colaboração do raminhense José Coelho Neto,[15] personalidade que viria a ser instrumental na criação do curato e depois da freguesia do Raminho. A comissão assumiu as obras e deliberou dirigir a edificação de uma igreja na povoação do Raminho, prestando à obra todo o auxílio que pudesse.[14] A comissão angariou 152$530 réis, quantia avultada ao tempo. Com esta quantia, com o contributo em trabalho e materiais dos raminhenses e com o que dos fundos públicos o governador pode obter, construiu-se um templo, de uma só nave, com três altares, localizado bem no centro da povoação, em local elevado e vistoso (onde agora está a igreja paroquial).

Na escolha do orago foi determinante Francisco Nunes da Rocha, residente na cidade de Angra, que era centurião da Pontifícia Obra da Propagação da Fé, organismo que tem São Francisco Xavier como protetor. Ao tempo avançado em idade e com posses, quando lhe pediram um contributo para a igreja do Raminho respondeu que ofereceria a imagem do orago, se a escolha fosse São Francisco Xavier. Tendo em conta que as imagens eram muito caras e difíceis de obter, a oferta foi aceite, ficando a nova igreja com aquele orago.[14]

Ainda estava a igreja em obras quando, por decreto de 14 de agosto de 1861,[16] foi criado no Raminho o curato com a invocação de São Francisco Xavier, sufragâneo da paroquial de São Roque dos Altares. Criado no mesmo dia que o curato de Santa Rita, na Serra de Santiago, o diploma foi obtido do 25.º governo da Monarquia Constitucional, presidido por Nuno José Severo de Mendoça Rolim de Moura Barreto, o 1.º duque de Loulé, do Partido Histórico, a requerimento da Câmara Municipal da Praia da Vitória através do deputado daquele partido eleito pelo círculo de Angra do Heroísmo, Jácome de Ornelas Bruges, o 2.º conde da Praia, que naquele tempo exercia as funções de governador civil do Distrito de Angra do Heroísmo. O decreto foi executado por provisão do bispo de Angra, D. frei Estêvão de Jesus Maria, datada de 1 de outubro daquele ano de 1861,[17] tendo como limites a Cruz dos Dois Moios e a Fajã.

A inauguração da igreja, após 6 anos de obras, ocorreu a 26 de outubro de 1861 com uma imponente procissão que saindo da igreja dos Altares conduziu a imagem de São Francisco Xavier, que lhe deveria servir de orago, até à nova igreja. Houve missa solene e sermões, sendo pregadores o tesoureiro-mor da Sé, José Prudêncio Teles de Bettencourt,[18] e o vigário de Santa Bárbara, João Lourenço da Rocha. Sobre o arco da capela-mor foi colocada uma inscrição que dizia: «A caridade levantou este templo: a sua primeira pedra foi lançada no dia 16 de agosto do ano de 1855; e abriu-se ao culto religioso a 26 de outubro de 1861».[14]

Com a extinção do concelho de São Sebastião, a partir de 1 de abril de 1870 os Altares, e por consequência o curato do Raminho, passaram a integrar o concelho de Angra do Heroísmo, sendo em simultâneo redefinida o seu limite oeste, passando o lugar da Fajã a integrar a freguesia da Serreta que havia sido criada por decreto de 16 de outubro de 1861.[19]

Consolidado o curato, iniciou-se o processo de autonomização do lugar, visando a criação da freguesia do Raminho. Num percurso em que ambos os partidos do rotativismo procuraram mobilizar as suas influências junto do Governo, a freguesia foi criada por Decreto de 11 de julho de 1878,[20] por iniciativa do deputado José Maria Sieuve de Meneses, o visconde de Sieuve de Menezes, junto do 36.º governo da Monarquia Constitucional, presidido por Fontes Pereira de Melo, do Partido Regenerador, sendo Ministro dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça Barjona de Freitas, que assina o decreto. Num período de intensa luta partidária, a elevação do Raminho a paróquia, em simultâneo com igual processo nas Cinco Ribeiras, foi saudada como uma vitória dos regeneradores, insinuando-se que Jácome de Ornelas Bruges, o 2.º conde da Praia, líder local do Partido Progressista, se havia oposto. Essas «especulações políticas» foram desmentidas pelos progressistas, que publicaram um ofício de 27 de dezembro de 1876, reforçado por outro datado de 26 de novembro de 1877, em que aquele político, ao tempo servindo de governador civil de Angra do Heroísmo, apoiava as pretensões dos povos do Raminho e Cinco Ribeiras, solicitando ao governo, então presidido pelo faialense António José de Áviladuque de Ávila e Bolama, a elevação a freguesias daqueles curatos.[21]

O decreto foi recebido pelos raminhenses com Te Deum e sermão pregado por monsenhor José Alves da Silva,[17] pároco dos Altares. Contudo, quando se tratou de delimitar a nova freguesia, durante o processo de consulta ordenado pelo bispo de Angra, ao tempo D. João Maria Pereira do Amaral e Pimentel, surgiu forte contestação por parte dos residentes do extremo leste do curato.[22][23] Exposto à publicidade o teor do Decreto pela autoridade eclesiástica, para que houvessem de reclamar os interessados na delimitação final da nova paróquia, «todo o povo da Canada dos Morros e o da Estrada Real até ao Outeiro da Chouriça, expôs em requerimento que o seu cómodo e vontade era continuar a pertencer aos Altares».[24]

Em resultado, e apesar do parecer favorável da autoridade eclesiástica às pretensões dos residentes, gerou-se um conflito em torno da delimitação da freguesia ao longo da Canada dos Morros, com os raminhenses a insistirem que o limite deveria coincidir com a posição do antigo marco das capitanias, na boca da Canada das Almas, que era ao tempo o limite do curato, e os altarenses a contrapor que o Treatro do Meio (nome resultante de ali ser montado um antigo treatro do Divino Espírito Santo) e a Canada dos Morros deveriam permanecer na sua jurisdição. Perante a irredutibilidade das partes, o bispo de Angra, a quem incumbia a instalação da nova paróquia, decidiu consultar o governo, o qual, por portaria de 3 de setembro de 1879,[25] ordenou «que dispondo-se simplesmente no Decreto de onze de julho último que pode ser elevado a paróquia independente o curato de São Francisco Xavier, sufragâneo da de São Roque dos Altares, sem que tenha sido autorizada alteração alguma na respetiva circunscrição, por não se ter mostrado pelas informações então havidas ser ela necessária, deve considerar-se demarcada a nova freguesia pelos mesmos limites do curato, enquanto outra coisa não for resolvida quando porventura venha a conhecer-se pelos meios competentes não ser aquela demarcação a mais racional e conveniente».[24] Esta portaria, emanada do 37.º governo da Monarquia Constitucional, presidido por Anselmo José Braamcamp, do Partido Progressista, e sendo governador civil Jácome de Ornelas Bruges, o 2.º conde da Praia, veio reacender as malquerenças partidárias entre regeneradores e progressistas que aproveitaram o conflito resultante como arma de arremesso.

Para obstar ao alastramento do conflito com a manutenção dos enterramentos de raminhenses no cemitério dos Altares, por provisão do bispo de Angra de 21 de maio de 1879 foi autorizada a benção do cemitério da nova freguesia, a qual ocorreu a 26 de maio daquele mesmo ano. Ainda antes da benção, e por autorização especial, já ali fora sepultado José Coelho Neto, que oferecera o tereno para o cemitério e fora o grande dinamizador da construção da igreja, da criação do curato e, depois, da elevação do curato a freguesia. Sobre este raminhense diz José Alves da Silva: «Foi ele um dos principais contribuintes para as despesas da construção, e animava os seus concidadãos para todos os trabalhos necessários, com o seu constante exemplo. Teve a glória e indizível prazer de ver coroados os seus esforços; e deixou bem assinalado o seu amor por esta edificação tão necessária e tão piedosa, legando em seu testamento à Junta dez alqueires de renda. Foi ainda ele que ofereceu o terreno para o cemitério, quando depois se pensou em elevar o curato a paróquia, sendo também o primeiro que neste cemitério se sepultou, por licença especial, antes de ele estar completo e bento. Jaz em sepultura assinalada com uma modesta pedra, que mesmo assim a distingue das demais sepulturas, como uma manifestação da gratidão daquele povo para com a sua memória abençoada[26]

Apesar da discordância em relação aos limites, o bispo D. João Maria Pereira do Amaral e Pimentel cumpriu o que lhe era ordenado pela portaria e por provisão de 3 de fevereiro de 1880 deu execução à criação da paróquia e de acordo com o governador civil mandou instalar os respetivos marcos de delimitação. No dia 15 de fevereiro de 1880, primeira dominga da Quaresma, começou a nova paróquia a funcionar com inauguração que constou de missa cantada, Te Deum e sermão pregado pelo monsenhor José Alves da Silva, pároco dos Altares.[24] A freguesia, na sua configuração inicial, tinha à data de entrada em funcionamento 1258 habitantes repartidos por 342 fogos.[24]

A par da justa alegria do povo do Raminho, que via o seu curato elevado a paróquia, ficou lavrando muito fundo o desgosto dos habitantes da Canada dos Morros e imediações que receberam um indeferido à reclamação para que foram convidados pela autoridade. As consequências deste desgosto foram retraírem-se os ditos habitantes de qualquer serviço religioso no Raminho, a ponto de não se desobrigarem das Quaresmas, deixarem de fazer as suas coroações de Espírito Santo, não darem esmola, como costumavam, para o culto religioso naquela igreja e conservarem os filhos por baptizar. Este estado de violência e de profundo desgosto era acompanhado de contínuas reclamações ao prelado e ao Governo de Sua Majestade.[24] As reclamações foram finalmente atendidas, embora parcialmente, por Decreto de 28 de junho de 1882, que alterou a demarcação das duas freguesias, assinado por Júlio de Vilhena, ao tempo Ministro dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça do 39.º governo da Monarquia Constitucional, presidido pelo regenerador Fontes Pereira de Melo. A nova demarcação da freguesia foi ordenada por provisão do bispo de Angra datada de 11 de setembro de 1882.[27]

Por ordem do governador civil, ao tempo Afonso de Castro, os marcos divisórios foram colocados nos seguintes locais: «um por detrás da casa de Manuel do Couto Fagundes, na distância de 22 metros do eixo da Canada dos Morros; outro por detrás da casa de Francisco Gonçalves Ramos, junto da ribeira denominada dos Dois Moios, em que se inscreveu em tinta vermelha de óleo a letra – A –; outro na entrada da dita Canada dos Dois Moios, na parede divisória da propriedade de Francisco Vaz Toste, indicado com a letra – R – a tinta vermelha.» Pela nova demarcação, a Canada dos Morros e o troço da Estrada Real da Canada das Almas até à Cruz do Marco regressava aos Altares, mas o troço da Estrada entre a Cruz do Marco e o Outeiro da Chouriça, abrangendo quase todo o Teatro do Meio, permanecia no Raminho. Também regressava aos Altares a Silveira Grande e a Silveira Pequena, no extremo sudoeste da Canada dos Morros, apesar dos seus moradores pretenderem permanecer no Raminho, já que ficavam a curta distância da respetiva paroquial quando desciam pela Canada do Esteves.[24]

Apesar de com esta nova demarcação não ficarem satisfeitos todos os reclamantes, porque por um engano na redação do decreto ficou incorporado nos Altares o extremo oeste da Canada dos Morros, que devia pertencer ao Raminho por assim o pedir o bom serviço, tendo ficado incorporada no Raminho a parte da Estrada Real até à Chouriça, cuja população reclamara também para ser dos Altares, aquietaram-se os ânimos.[24]

Uma consequência da manutenção do Teatro do Meio no Raminho foi o desencadear em 1882 de um grave conflito sobre a posse da coroa do Espírito Santo que era pertença da irmandade que mantinha o culto naquela parte da freguesia, composta maioritariamente por residentes na Canada dos Morros e locais viznhos. O conflito arratou-se por uma década, sendo apenas resolvido nos tribunais por sentença de segunda instância em 1892. Sobre esta questão escreve o padre José Alves da Silva, ao tempo pároco dos Altares: «Em 1892 foi decidida pela Relação de Ponta Delgada uma impertinente questão de uma coroa do Espírito Santo que trazia dividido o povo desta freguesia e o do Raminho. Eis o caso: quando a freguesia compreendia o curato do Raminho tinha 3 impérios, um junto de cada igreja, e outro num ponto intermédio, e que por isso se chamava — Teatro do Meio; o povo da vizinhança, que compreendia toda a Canada dos Morros e imediações, é que geria este império. Efetuada a divisão da freguesia, ficou o dito império no território do Raminho. Nada mais justo e racional do que continuar o mesmo império a funcionar, o mesmo povo com a respetiva gerência como acontece em toda a ilha em idênticos casos. Não o entendeu assim, infelizmente, a Junta do Raminho, e logo depois de efetuada a divisão exigiu judicialmente a entrega da coroa e mais insígnias do império! Esta exigência causou grande sobressalto, como é fácil de compreender, e o povo das imediações do império, para se subtrair a tal violência, constituiu-se em irmandade com estatutos aprovados. Parecia que assim ficariam terminados todos os conflitos. Pois não sucedeu tal. A Junta não se deu por vencida, e foi de novo para juízo contra a irmandade, alegando que os estatutos foram elaborados depois da questão estar em juízo. Parecia ainda, perante a razão, que se aqueles objetos podiam pertencer àqueles indivíduos constituídos em irmandade antes da questão estar em juízo, também posteriormente o poderiam; tanto mais quanto objetos idênticos nunca em parte alguma são reclamados pelas juntas; andam sempre entre o povo que sempre deles usou, ainda mesmo quando os respetivos impérios não funcionem, como nomeadamente está acontecendo em Angra aos impérios da rua do Galo, da rua de Santo Espírito e até julgo que também ao da rua de São Pedro, continuando as coroas e mais insígnias em poder dos antigos irmãos. Não sucedeu, porém, assim; e a Junta teve sentença favorável na primeira instância. Desta sentença apelou a irmandade para a Relação de Ponta Delgada e aí obteve sentença adversa, mas que, depois de postos uns embargos, se lhe tornou favorável. Assim terminou esta questão irritante e escusada, que nunca se devera ter levantado, e com a qual tanto dinheiro se gastou e tantas indisposições se criaram. Oxalá que o tempo tudo faça esquecer, e que a paz se restabeleça por tal ordem entre estas duas freguesias, que elas se mostrem um povo de irmãos, como realmente são, visto que os laços de sangue entre elas são íntimos e estreitíssimos. Todas as dissensões devem esquecer e a paz deve ser tanto mais perdurável, quanto é certo que ninguém pôde nem deve cantar vitória. O individuo que representava a irmandade em juízo, depois de ter sofrido desgostos gravíssimos e feito despesas muito superiores aos seus haveres, recebeu a notícia da sentença quase à beira do túmulo, ferido por uma doença mortal. A parte que perdeu a questão, sendo, como é, o povo inteiro de uma freguesia, quase não sente as consequências dessa perda, pois os encargos são divididos por todos. Serviu, porém, este resultado para dar sossego e tranquilidade aos últimos dias da vida daquele indivíduo, afinal sempre bem-intencionado nesta questão, pois que só desejou a conservação daqueles direitos e regalias que gozaram os seus antepassados, e servirá por certo tudo quanto se passou de lição para casos idênticos, de sorte que em boa inteligência e harmonia se resolvam toda e qualquer pendências, como é próprio de cristãos, irmãos e amigos[28]

Depois de anos de discussão, e de várias assuadas entre freguesias e do marco de delimitação ter sido movido e destruído várias vezes, o limite acabou na boca da Canada dos Morros, na Cruz do Marco, ficando o Treatro do Meio no Raminho e a Canada dos Morros nos Altares. Desta contenda resultou que as casas sitas no lado oeste da Canada dos Morros são dos Altares, mas os terrenos rústico confinantes são do Raminho. Daí que o marco de separação entre freguesias não esteja no mesmo alinhamento, o dos Altares, junto ao chafariz da Cruz do Marco, a leste da Canada dos Morros, o do Raminho quase uma centena de metros para oeste, já bem internado no Treatro do Meio, deixando uma curiosa terra de ninguém entre eles.

A par com os Altares, a freguesia do Raminho foi a última do concelho de Angra do Heroísmo a ter electricidade, com a sua rede de distribuição domiciliária a ser inaugurada no dia 6 de Julho de 1969.[29] A distribuição domiciliária de água apenas foi conseguida na década de 1980.

terramoto de 1980 causou graves danos na freguesia, obrigando à reconstrução da quase totalidade do seu parque habitacional. Também provocou grandes desabamentos na arriba costeira, destruindo o acesso a vários pesqueiros e o atalho (a «descida») de acesso à nascente de água mineromedicinal da Água Azeda do Cabo do Raminho, um manancial situado na zona entremarés nas proximidades da Ponta do Raminho que era aproveitado para fins medicinais.[30]

A principal festa religiosa do Raminho realiza-se anualmente no último domingo de Agosto em honra do Sagrado Coração de Jesus.CRONOLOGIA 1474 – Nesta data e devido à divisão da ilha Terceira nas capitanias da Praia e de Angra o Raminho é integrado no território da capitania de Angra. 

1684 – Nesta data e por decisão do então bispo de Angra, D. frei João dos Prazeres, a Ermida da Madre de Deus do lugar dos Folhadais, concelho de Angra do Heroísmo passa a ter cura nomeado. 

1694 – Ano que o Cura que celebrava missa nos Altares, foi autorizado a celebrar missa aos Domingos na Ermida da Madre de Deus no Raminho, para que lá fossem todos os habitantes que ficassem da Cruz dos Dois Moios até à Fajã, para que fossem doutrinados e dali receberem os Últimos Sacramentos. 

1855 – 16 de Agosto – Lançamento da primeira pedra da Igreja do Raminho 

1856 – Dada a necessidade de ampliação da Ermida da Madre de Deus, é emitido um pelo governador civil, Nicolau Anastácio de Bettencourt, para a formação de uma comissão fabriqueira encarregue de angariar fundos e de conduzir a obra. 

1861 – É terminada a obra de substituição da Ermida da Madre de Deus do Raminho, por um novo templo de maior dimensão, constituído por três naves, espaçoso e em estilo neo–romântico. Tem duas torres de sineira e foi consagrada a São Francisco Xavier. 

1861 – A freguesia do Raminho é elevada a curato independente por provisão do bispo D. frei Estêvão de Jesus Maria, confirmada por decreto real do mesmo ano. 

1861 – 26 de Outubro ficou construída a primeira Igreja do Raminho, tendo como padroeiro São Francisco Xavier, e logo passou de Lugar a Curato. Neste dia também teve lugar o primeiro culto religioso no Raminho. 

1864 – É feito o primeiro recenseamento populacional da freguesia do Raminho, pelos modernos critérios demográficos.

1867 – Na noite de 1 para 2 de Junho, após muitas semanas de intensa sismicidade, provocou grandes danos no Raminho, só no dia 2 de Junho contaram-se 57 sismos. 

1870 – Com o desmembrar do concelho de São Sebastião, a freguesia do Raminho é integrada no concelho de Angra do Heroísmo. 

1878 – Separação da paróquia do Raminho da Paróquia dos Altares, ambas do concelho de Angra do Heroísmo. 

1878 – 11 de Julho, por decreto recebido pelos raminhenses com Te Deum e sermão pregado por Monsenhor José Alves da Silva, o Raminho, foi transformado em freguesia, até então, denominada Curato do Raminho. 

1880 – 3 de Fevereiro – Foi mudado o Império do Teatro do Meio para a Praça, hoje denominado o Império do Divino Espírito Santo. 

1890 – Devido a obras de restauro, a Igreja apresenta-se mais espaçosa e imponente. Ao espírito dinâmico do Vigário Augusto Pereira da Silveira se deve o templo ter passado de uma para três naves e de uma para duas torres sineiras. 

1901 a 1904 – Existiu na freguesia do Raminho a ermida da Sr.ª Lourdes, a Oeste do Biscoito da Fajã. 

1955 – O Reverendo Carlos Pacheco Lopes tomou a iniciativa da construção do Passal e da reconstrução do Cemitério, assim como o levantamento da Ermida anexa, asfaltagem e alargamento do seu caminho de acesso. 

1960 – A freguesia do Raminho, concelho de Angra do Heroísmo é fortemente atingida pelo grande surto emigratório para os Estados Unidos da América do Norte ao abrigo do Kennedy-Pastore Act. 

1971 – Foi fornecida a instalação eléctrica ao Raminho. 

1980 – 1 de Janeiro um terramoto causou graves danos à freguesia do Raminho, obrigando à reconstrução da quase totalidade do seu parque habitacional. 

1990 – Chega a distribuição domiciliária de água ao Raminho, 

1993 – 10 de Junho, é inaugurada a Casa do Povo do Raminho 

1993 – 13 de Novembro, é criada a Tuna do Raminho, agrupamento musical com origem em cursos extra-escolares de música promovidos pela Junta de Freguesia. Incluía tocadores de viola da terra, violão, bandolim, violino e instrumentos de percussão. O repertório era constituído por música regional açoriana e música popular. 

1996 – 16 de Fevereiro, foi aprovado o Brasão, bandeira e selo branco por proposta da Junta de Freguesia em sessão ordinária da Assembleia de Freguesia. 

2000 – Realizou-se grandes obras de beneficiação na Estrada Regional, tendo esta sido corrigida e totalmente repavimentada. 

2001 – 25 de Abril, é Inaugurado o edifício sede da Junta de Freguesia. 

2003 – 2 de Novembro inauguração do Campo de Jogos 

2009 – 25 de Abril, Inauguração da Capela Mortuária. 2009 – 29 de Agosto , conclusão do Parque de Estacionamento do Centro da Freguesia. 

2013 – 5 de Junho, conclusão da nova variante abaixo da estrada regional, denominada rua Nova. 

2014 – 29 de Agosto. Inauguração da biblioteca “Alamo Oliveira”

2019-  09 de agosto , Inauguração da VIDEOTECA

2020-

2021-   Confinamento da população devido a  Grande pandemia de  COVID-19 no Mundo.          24 de Fev. 2021 Inauguração do caminho Agrícola, Ribeira do Borges / Presa Grande.

2022- 1ª Pessoa no Raminho a completar 100 Anos  Sra. Maria Cota


Geografia

O território da freguesia do Raminho, de configuração grosseiramente triangular, é limitado a leste pela freguesia dos Altares, da qual é separado pela Canada dos Morros, e a oeste pela freguesia da Serreta, da qual é separado pelo grande domo traquítica do Biscoito da Fajã. O limite sul da freguesia coincide com o rebordo da Caldeira de Santa Bárbara e o limite norte é imposto pela alta falésia costeira, batida pelo Oceano Atlântico.

Sendo uma freguesia do norte da ilha, de cara sempre lavada pelas chuvas e pelo vento, o seu verde é claro e brilhante. As plantas sempre vivas e cheias de flores enfeitam os caminhos e rebordam as pastagens principalmente na primavera quando a flor amarela da erva azeda desponta pelos campos. Do Miradouro do Raminho desfrutam-se algumas das mais belas paisagens dos Açores, com a freguesia do Raminho e a Fajã à vista e com as ilhas da Graciosa e de São Jorge no horizonte.

Igreja de São Francisco Xavier, Raminho.
Império do Divino Espírito Santo do Raminho.

Implantado no Complexo Vulcânico de Santa Bárbara e ocupando o flanco norte da Caldeira de Santa Bárbara, o território da freguesia do Raminho apresenta uma topografia acidentada a sul, nas faldas da Serra de Santa Bárbara, onde atinge a sua máxima altitude (966 m acima do nível médio do mar) tornando-se progressivamente suave para norte, até terminar nas altas arribas costeiras que o separam do mar.[1]

Na parte ocidental observa-se um relevo levantado, de orientação NO-SE, com configuração quase linear e desnível muito acentuado no rebordo leste, correspondente à poderosa escoada traquítica do Biscoito da Fajã, que a partir do Pico das Caldeirinhas escorreu até ao mar, formando o Cabo do Raminho e a Ponta da Serreta.

As linhas de água que percorrem a freguesia são pequenas e de caudal efémero, nascendo todas nas encostas da caldeira. A orientação do terreno leva a que se desenvolvam segundo um traçado rectilíneo, com direcção predominante sul-norte. Os seus vales são pouco profundos, embora bem definidos, destacando-se a Ribeira do Borges, a Ribeira do Cabo do Raminho, a Grota do VeigaGrota do Francisco Vieira e a Grota dos Folhadais,[1] curso de água que ainda mantém o topónimo original da localidade.

A orla costeira, numa extensão de cerca de 5,7 km, é uma continuada falésia, com arribas altas e um traçado quase linear, apenas interrompido por um poderoso dique basáltico, que por ser mais resistente à abrasão marinha, forma uma marcada protuberância. A Ponta do Raminho é um dos lados da doma traquítica do Biscoito da Fajã, separada da Ponta da Serreta por uma fajã, uma pequena área de terra não recoberta pela escoada traquítica.[1]

A parte alta da freguesia está incluída numa das áreas protegidas da Rede Natura 2000, o Sítio de Interesse Comunitário (SIC) da Serra de Santa Bárbara e Pico Alto. No extremo oeste da freguesia, já no limite com a freguesia da Serreta, situa-se a Mata da Serreta, parte da Reserva Florestal de Recreio da Serreta.

Povoamento e demografia

A superfície habitada é pouco significativa no contexto do território da freguesia, com o povoamento a expressar-se de forma linear e contínua ao longo da estrada paralela à costa que circunda a ilha. A única penetração do povoamento para interior da ilha, e ainda assim sem expressão, ocorre ao longo da Canada do Esteves, nas imediações da igreja paroquial.

A freguesia é constituída pelos seguintes lugares: Teatro do Meio; Portal da Terça; Canada dos Dois Moios; Grota dos Folhadais; Presa do António Borges; Atalosa; Presa do Sabino; Rua Funda; Á Igreja; Canada do Esteves; Terreiro; Canada da Bernarda; Grota do Francisco Vieira; Presa Grande; Ribeira do Borges; Lameiro do Carepa; e Cabo do Raminho.

Desde finais do século XIX até à década de 1960 a população manteve-se relativamente constante, com valores a oscilar entre 1 200 e 1 300 habitantes. A partir dessa data sofre um decréscimo notório, comprovado nos resultados do censo de 2001,[2] registando então apenas 550 residentes.

A partir de 1864, ano em que se realizou o primeiro recenseamento pelos modernos critérios demográficos, a evolução da população da freguesia foi a seguinte:

Nº de habitantes / Variação entre censos [3]
1864187818901900191119201930194019501960197019811991200120112021
12631300129512351230124511431189853663601550565464
+3%-0%-5%-0%+1%-8%+4%-28%-22%-9%-8%+3%-18%

Grupos etários em 2001, 2011 e 2021

0-14 anos15-24 anos25-64 anos65 e + anos
Hab77 | 92 | 5887 | 60 | 44261 | 291 | 251125 | 122 | 111
Var+19% | -37%-31% | -27%+11% | -14%-2% | -9%

★ 1864, 1868 - A freguesia era então território da freguesia dos Altares.
Fonte: DREPA (Aspectos demográficos - Açores 1978) e Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA)
★★ A primeira referência à existência desta freguesia encontra-se no decreto de 12 de novembro de 1898 [4]

Como é comum no mundo rural açoriano, a evolução da freguesia do Raminho foi desde cedo controlada pela emigração, primeiro para o Brasil, depois para os Estados Unidos e finalmente para o Canadá. Ao longo do século XX, a população da freguesia manteve uma relativa estabilidade até meados da década de 1960; depois, graças à facilitação da emigração açoriana para os Estados Unidos em consequência do Kennedy-Pastore Act,[5] a população entrou em rápido declínio, ainda não tendo estabilizado, apesar da emigração ter virtualmente cessado há mais de uma década.

Economia

A agro-pecuária, centrada quase exclusivamente na bovinicultura leiteira, e o pequeno comércio são as principais actividades económicas da freguesia do Raminho. Graças à melhoria da rede de estradas, um número crescente de raminhenses trabalha nas cidades de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória e na Base das Lajes.

Sendo a bovinicultura de leite a principal actividade económica da freguesia, graças à riqueza dos seus solos e à abundância de chuva nos terrenos altos da encosta norte da Serra de Santa Bárbara, a freguesia foi sede de uma cooperativa leiteira, entretanto associada na União das Cooperativas de Lacticíneos da Ilha Terceira. Um moderno posto de recolha de leite serve a freguesia, analisando a qualidade do leite entregue e registando as quantidades entregues por cada lavrador. O leite é posteriormente transportado para a fábrica de Angra do Heroísmo em camião cisterna adequado.

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